Nossa república tem muito pouco de res pública (coisa pública) e muito de ré pública. Nossa golpista república surgiu da combater a inserção social e nada teve a ver com as repúblicas surgidas da mobilização popular como na França, Estados Unidos e Espanha (antes do franquismo). Ironicamente a monarquia brasileira respondia mais aos anseios do povo do que a desgraçada república velha. Só depois de Getúlio Vargas é que veremos alguma participação popular ainda engatinhar na república (muitas vezes uma participação submissa como era no getulismo).
Que república queremos? A velha república golpista? A república covarde fruto da anistia dada gentilmente pelos torturadores para os torturados e para si próprios? Creio que não... Creio que não queremos essa república tão pouco republicana, que se importa tão pouco com a coisa pública, uma república nem um pouco virtuosa (para lembrar dos princípios de moralidade na gestão pública ensinados pelos jacobinos) e de baixa participação popular (se formos comparar com a república espanhola derrubada pelo franquismo).
As semelhanças entre os golpes militares de 1899 e 1964 |
Precisamos de uma nova república*, que entenda que nada tem para comemorar no passado republicano brasileiro, mas que visando efetivamente a mobilização e participação democrática da sociedade consiga escrever uma nova história republicana. Até o surgimento dessa nova república nada temos pra comemorar, e quando ela surgir em nada comemoraremos a república passada.
Creio que as palavras de Roberto Amaral sobre o Estado sejam muito úteis em nosso ideal de uma nova república:
"A democratização da sociedade começa com a democratização do Estado, revertendo sua vocação antipovo e autoritária, isto é, rompendo com a persistente dicotomia entre Casa Grande e Senzala, senhor e servidor, sujeito e objeto, possuidor e possuído. Democratizar o Estado é também pô-lo para funcionar. Nossas elites pervertidas clamam pelo ‘Estado mínimo’ porque sua inação só prejudica aos pobres aqueles que efetivamente precisam de transporte público de massa eficiente e gratuito (que as elites não reclamam por disporem do transporte individual), da escola pública universal e de qualidade (de que não carece a classe média, servida pela escola privada), que requer professores bem preparados e bem pagos, do serviço universal e eficiente de saúde no seu sentido mais amplo, o que requer mais médicos e médicos bem preparados e bem pagos, do saneamento básico que não chega nem à periferia nem aos bairros populares, de segurança pública e de polícia cidadã. Um Estado desburocratizado, um serviço público democrático, significam a transição do Estado-snowden, ou orwellliano, para o Estado democrático-participativo, indutor do desenvolvimento. Um Estado transitando permanentemente da democracia representativa para a democracia participativa. Esse é o Estado que almejamos, o Estado possível mesmo nas circunstâncias atuais." Roberto Amaral em http://www.cartacapital.com.br/politica/dos-fins-do-estado-de-socialismo-e-socialdemocracia-8927.html
* Ou que seja uma monarquia, mesmo não sendo monarquista admito que em alguns países como a Inglaterra e a Suécia a monarquia representou melhor os anseios democráticos da nação (na Espanha ocorreu justamente o oposto), afinal é bem mais valiosa uma monarquia republicana do que uma república esvaziada do verdadeiro espírito republicano.
0 comentários:
Postar um comentário