Igreja
Episcopal Anglicana do Brasil
Diocese
Anglicana do Rio de Janeiro
Conselho
Diocesano
Rio
de Janeiro, 04 de Dezembro de 2017
MANIFESTO
SOBRE A ATUAL CONJUNTURA DO RIO DE JANEIRO
“Os
justos levam em conta os direitos dos pobres, mas os ímpios nem se
importam com isso.” (Provérbios 29:7).
Nós,
membros do Conselho Diocesano da Diocese Anglicana do Rio de Janeiro,
em conjunto com nosso bispo diocesano, Dom Eduardo Coelho Grillo,
vimos por meio deste, nos manifestar sobre a conjuntura política,
econômica e social vivenciada pelo Estado do Rio de Janeiro e pela
Cidade do Rio de Janeiro, confiantes que estamos assim, cumprindo uma
pequena parte do papel profético que Deus nos comissionou, ao nos
opormos aos males que estão causando tanto sofrimento ao povo de
nossa cidade e de nosso Estado.
O
Rio de Janeiro vivencia uma crise sem precedentes em sua história,
crise esta, justamente no cenário pós Olimpíadas
e Copa
do Mundo,
grandes eventos que foram realizados sob a lógica do lucro dos
poderosos e não do bem-estar do povo em geral. Esses eventos,
associados com um histórico de má gestão e pouco espírito
republicano remetem ao cenário atual, onde os que mais sofrem é
justamente o povo mais humilde, que vê negado o seu acesso aos
serviços mais essenciais como saúde, educação, segurança e
moradia.
Todos
pudemos acompanhar estarrecidos, a uma recente votação na
Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ), na qual os senhores
deputados optaram por libertar seus colegas envolvidos em tantos
escândalos de corrupção, passando por cima de toda a investigação
realizada e da decisão do judiciário sobre o tema. A votação,
cujo resultado era por si só lamentável, demonstrou claramente que
os interesses dos governantes se afastaram completamente dos
interesses do povo que os elegeu.
Foi
coadjuvada por cenas lamentáveis de repressão brutal para com
manifestações populares pacíficas, e, até de tentativas de
impedir que o povo pudesse acompanhar a votação das galerias, muito
embora com determinação judicial para que assim o fosse. Tudo isso,
amplamente divulgado pela imprensa.
Ressalta-se
que, este não foi o primeiro nem o único problema que nosso Estado
tem enfrentado. Antes, acompanhamos a heróica resistência dos
servidores públicos estaduais que estiveram com meses de salário
atrasado, bem como, sem receber o seu décimo terceiro. Esses
servidores, são alvo constante de propagandas na mídia em prol de
reformas como a da previdência, que visam apenas massacrar ainda
mais o povo trabalhador e sobre a qual a Igreja Episcopal Anglicana
do Brasil já emitiu nota contrária a mesma.
Os
servidores estaduais, muitas vezes, estão pagando para trabalhar e
não deixar a população desassistida. Tem pagado a conta que não é
deles.
Incompreensível
é que, o mesmo governo que alega não ter recursos para pagar tais
servidores, abre mão de inúmeras receitas importantes em favor de
determinadas empresas que devem fortunas ao Estado.
Soma-se
a tudo isto em nossa cidade e em nosso Estado, os recentes escândalos
que vieram à tona relativamente às
denúncias das relações
promíscuas entre o alto escalão dos governos e as empresas de
transporte público. O tema é de extrema sensibilidade em um Estado
e em uma Cidade com sua mobilidade tão cara, ineficaz e que quase
nunca é planejada visando os interesses dos usuários - os
trabalhadores.
Enquanto
os servidores amargam meses sem receber o seu sustento e o povo
amarga a falta de serviços públicos dos mais básicos, o Estado do
Rio de Janeiro tem seus 3 últimos governadores presos por
envolvimento em escândalos de corrupção, vivendo abastadamente e
com luxo, as custas do sangue e do suor do povo de Deus.
Além
dos citados governadores, existem secretários e deputados que se
encontram na mesma situação, tornando atual a advertência bíblica:
“Ouçam
agora vocês, ricos opressores! Chorem e lamentem-se, tendo em vista
a miséria que lhes sobrevirá. A riqueza de vocês apodreceu, e as
traças corroeram as suas roupas. O ouro e a prata de vocês
enferrujaram, e a ferrugem deles testemunhará contra vocês e como
fogo lhes devorará a carne. Vocês acumularam bens nestes últimos
dias. Vejam, o salário dos trabalhadores que ceifaram os seus
campos, e que por vocês foi retido com fraude, está clamando contra
vocês. O lamento dos ceifeiros chegou aos ouvidos do Senhor dos
Exércitos. Vocês viveram luxuosamente na terra, desfrutando
prazeres, e fartaram-se de comida em dia de abate. Vocês têm
condenado e matado o justo, sem que ele ofereça resistência.”
(Tiago 5:1-6)
No
município do Rio de Janeiro, vemos também diversos problemas. O
primeiro deles está na condução da saúde pública municipal, com
diversos cortes e sem revisar algumas políticas que já se mostraram
ineficazes (como a adoção das OSs com todos os escândalos que já
foram fartamente denunciados pela imprensa).
Outro
problema que vem assolando a nossa cidade é o retorno do fantasma
das remoções, a política fracassada de remoções de comunidades
que já parecia sepultada em um passado remoto, foi retomada com toda
a força durante a preparação para a Copa do Mundo e as Olimpíadas
do Rio de Janeiro, o que por si só já seria demasiadamente infeliz.
Esclareça-se
que, a mesma política de remoções parece se intensificar, vez que,
a comunidade de Rio das Pedras, em Jacarepaguá, vem sofrendo com
constantes ameaças, sendo tais ameaças, monitoradas por nossa
missão naquele local.
Declaramos
neste Manifesto o nosso repúdio contra as autoridades que são os
responsáveis do sofrimento deste povo que não consegue atendimento
no sistema de saúde público já precarizado, que não está
protegido por uma política pública de segurança que contemple os
interesses de todos, que não tem acesso
a escolas públicas de
qualidade e que nem recebem a justa remuneração pelos seus serviços
prestados para o conjunto da sociedade.
Solidarizamo-nos
com a população fluminense e carioca, como companheiros de luta na
certeza de que a paz que tanto almejamos será fruto da justiça, a
qual estamos aqui proclamando como parte do ministério que Cristo,
nosso Senhor, nos outorgou.
Que
o Cristo libertador fortaleça as lutas populares na defesa de seus
direitos, e ilumine àqueles que as lideram nos anseios por justiça
e paz.
Reverendo
Bernardino Ovelar Arzamendia
Reverendo
Antonio Terto Lima
Reverendo
Daniel Rangel Cabral
Eliane
Bacelar
Julio
Reis Simões
Morôni
Azevedo de Vasconcellos
CONSELHO
DIOCESANO
Dom
Eduardo Coelho Grillo
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