CRISE, PECADO E OPRESSÃO NO RIO DE JANEIRO PÓS-OLÍMPICO.

on sexta-feira, 18 de maio de 2018
Conheça o CEBI: https://www.cebi.org.br/

*Publicado na Revista "Por Trás da Palavra" do CEBI (Centro de Estudos Bíblicos) de Novembro/Dezembro de 2017, Ano 35, nº 332.
Se existe um exemplo emblemático de toda a crise política, econômica e social no Brasil, de fato é o Rio de Janeiro (tanto a cidade quanto o Estado). O Rio de Janeiro viveu recentemente a euforia da Copa do Mundo (2014) e das Olimpíadas (2016), grandes eventos internacionais que porém pouco ou nenhum benefício deixaram para o seu povo, mas deixaram muitas mazelas como legado contra o povo mais humilde: “Os justos levam em conta os direitos dos pobres, mas os ímpios nem se importam com isso.” (Provérbios 29:7).
No preparativo para tais eventos já era nítido a quem os governos estavam servindo e que não era ao povo mais humilde e sim ao capital especulativo. De fato não é possível servir a Deus e ao dinheiro (Lucas 16:13) e nossos governantes, bem como as elites que os sustentam, não tardaram a escolher o seu lado. A política de remoções de comunidades carentes para abrir espaço para a especulação imobiliária, que parecia sepultada na tenebrosa era Lacerda, foi a tônica dos preparativos com várias comunidades sofrendo com os despejos: Vila Autódromo, Asa Branca, …
A especulação imobiliária, o problema da concentração das terras e casas nas mãos de poucas pessoas, que acabam empurrando os mais pobres para localidades mais distantes visando atender os interesses das classes privilegiadas, já era denunciada pelos profetas bíblicos: “Ai dos que ajuntam casas e mais casas, dos que acrescentam um campo a outro, até que não haja mais onde alguém possa erguer sua casa, e eles se tornem os senhores absolutos da terra!” (Isaías 5:8).
Tanto a remoção não privilegiava o povo, como não era necessária, que com muita luta alguns moradores da Vila Autódromo conseguiram continuar a morar no mesmo local. Igualmente, nota-se que não era apenas por conta dos grandes eventos, já que após os mesmos, o fantasma das remoções retorna quando a prefeitura ameaça remover os moradores da comunidade do Rio das Pedras (comunidade humilde que fica ao lado áreas nobres da capital fluminense como o Itanhangá, Alto da Boa Vista e Barra da Tijuca).
Falando em lutas, desde as jornadas de protesto em 2013, passando pela luta dos moradores contra as remoções, a luta dos servidores públicos para receberem os seus salários, as lutas contra os leilões do pré-sal e tantas outras, a resposta das autoridades é sempre a mesma: repressão. A violência contra o povo se viu em um nível alarmante, protestos pacíficos foram reprimidos com um sadismo assustador, a violência era a arma para tentar calar o povo (sempre foi, não é atoa que seguimos o Cristo crucificado com seus discípulos martirizados pelo grande Império), não é atoa que diz a Bíblia: “Como um leão que ruge ou um urso feroz é o ímpio que governa um povo necessitado.” (Provérbios 28:15).
Como resultado do pós-olimpíadas, além de obras faraônicas subaproveitadas como a vila dos atletas na Ilha Pura (que continua sem uso), o Centro Olímpico subaproveitado, sistemas de transportes mal planejados (ou melhor, planejados de acordo com os interesses das empresas e não com os interesses do povo), vieram as notícias que todos já sabíamos: os esquemas de corrupção (alguns ligados a realização dos eventos) e os gastos exorbitantes com estruturas desnecessárias levou a falência econômica do Estado do Rio de Janeiro e uma forte crise na capital do mesmo.
Com a crise, os governos novamente optaram por cortar gastos, porém não fizeram o corte no uso indevido do dinheiro público, e sim resolveram realizar cortes nos repasses para a saúde, educação e outras áreas, chegando a cortar o salário dos servidores estaduais que estão a meses sem receber o que lhes era devido. Meses sem salário, sem o sustento, levando a muitos servidores passarem fome, serem despejados e passarem por várias outras situações terríveis, alguns inclusive morreram nesse período por problemas de saúde que possivelmente foram agravados por todo o estresse e necessidades gerados pela falta do sustento mais elementar para si e para os seus, como no provérbio bíblico: “Quando os justos governam, alegra-se o povo; mas quando o ímpio domina, o povo geme” (Provérbios 29:2).
Enquanto os servidores amargam meses sem receber o seu sustento e o povo amarga a falta de serviços públicos dos mais básicos, o Estado do Rio de Janeiro tem seus 3 últimos governadores presos por envolvimento em escândalos de corrupção, vivendo vidas de luxo as custas do sangue e do suor do povo de Deus, além deles secretários e deputados se encontram na mesma situação (e olha que vários colegas deputados continuaram tentando manter os corruptos livres, enquanto mandavam a polícia para reprimir o povo que protestava contra os absurdos), de fato, parece-nos que o apóstolo Tiago escreveu para o nosso Estado e seus líderes:
Ouçam agora vocês, ricos opressores! Chorem e lamentem-se, tendo em vista a miséria que lhes sobrevirá. A riqueza de vocês apodreceu, e as traças corroeram as suas roupas. O ouro e a prata de vocês enferrujaram, e a ferrugem deles testemunhará contra vocês e como fogo lhes devorará a carne. Vocês acumularam bens nestes últimos dias. Vejam, o salário dos trabalhadores que ceifaram os seus campos, e que por vocês foi retido com fraude, está clamando contra vocês. O lamento dos ceifeiros chegou aos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Vocês viveram luxuosamente na terra, desfrutando prazeres, e fartaram-se de comida em dia de abate. Vocês têm condenado e matado o justo, sem que ele ofereça resistência.” (Tiago 5:1-6)
Como nas diversas crises relatadas nas Escrituras, que tiveram o pecado e a maldade como origem, Deus levantou profetas no meio de seu povo, Deus está nos chamando para denunciarmos tudo o que está ocorrendo em nossa terra e com o nosso povo. Que Deus tenha misericórdia de nós todos. Amém.

Por Professor Morôni Azevedo de Vasconcellos
Professor de geografia, teólogo, especialista em geografia do Brasil, mestre em educação e postulante ao ministério ordenado na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil.



0 comentários:

Postar um comentário