Uma Ré Pública...

on sábado, 16 de novembro de 2013
Normalmente nos causa revolta as comemorações do golpe de 1964 realizadas anualmente pelo Clube Militar, com participação de eminentes fascistas como Bolsonaro e outros do mesmo (baixo) nível... Entretanto, embora não seja monarquista, me causa uma certa revolta a comemoração do golpe militar de 1889 e que quase não enfrenta oposição...

Nossa república tem muito pouco de res pública (coisa pública) e muito de ré pública. Nossa golpista república surgiu da combater a inserção social e nada teve a ver com as repúblicas surgidas da mobilização popular como na França, Estados Unidos e Espanha (antes do franquismo). Ironicamente a monarquia brasileira respondia mais aos anseios do povo do que a desgraçada república velha. Só depois de Getúlio Vargas é que veremos alguma participação popular ainda engatinhar na república (muitas vezes uma participação submissa como era no getulismo).

Que república queremos? A velha república golpista? A república covarde fruto da anistia dada gentilmente pelos torturadores para os torturados e para si próprios? Creio que não... Creio que não queremos essa república tão pouco republicana, que se importa tão pouco com a coisa pública, uma república nem um pouco virtuosa (para lembrar dos princípios de moralidade na gestão pública ensinados pelos jacobinos) e de baixa participação popular (se formos comparar com a república espanhola derrubada pelo franquismo).

As semelhanças entre os golpes militares de 1899 e 1964

Precisamos de uma nova república*, que entenda que nada tem para comemorar no passado republicano brasileiro, mas que visando efetivamente a mobilização e participação democrática da sociedade consiga escrever uma nova história republicana. Até o surgimento dessa nova república nada temos pra comemorar, e quando ela surgir em nada comemoraremos a república passada.

Creio que as palavras de Roberto Amaral sobre o Estado sejam muito úteis em nosso ideal de uma nova república:

"A democratização da sociedade começa com a democratização do Estado, revertendo sua vocação antipovo e autoritária, isto é, rompendo com a persistente dicotomia entre Casa Grande e Senzala, senhor e servidor, sujeito e objeto, possuidor e possuído.  Democratizar o Estado é também pô-lo para funcionar. Nossas elites pervertidas clamam pelo ‘Estado mínimo’ porque  sua inação só prejudica aos pobres   aqueles  que efetivamente precisam de transporte público de massa eficiente e gratuito (que  as elites não reclamam por disporem  do transporte individual), da escola pública universal e de qualidade (de que não carece a classe média, servida pela escola privada), que requer professores bem preparados e bem pagos, do serviço universal e eficiente de saúde no seu sentido mais amplo, o que requer mais médicos e médicos bem preparados e bem pagos, do saneamento básico que não chega nem à periferia nem aos bairros populares, de segurança pública e de polícia cidadã. Um Estado desburocratizado, um serviço público democrático, significam a transição do Estado-snowden, ou orwellliano, para o Estado democrático-participativo, indutor do desenvolvimento. Um Estado transitando permanentemente da democracia representativa para a democracia participativa.  Esse é o Estado que almejamos, o Estado possível mesmo nas circunstâncias atuais." Roberto Amaral em http://www.cartacapital.com.br/politica/dos-fins-do-estado-de-socialismo-e-socialdemocracia-8927.html

* Ou que seja uma monarquia, mesmo não sendo monarquista admito que em alguns países como a Inglaterra e a Suécia a monarquia representou melhor os anseios democráticos da nação (na Espanha ocorreu justamente o oposto), afinal é bem mais valiosa uma monarquia republicana do que uma república esvaziada do verdadeiro espírito republicano.

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